Archive for the 'Cobertura' Category

09
maio
09

Cobertura: Roberto Carlos

O peso da coroa de Roberto Carlos
Thiago Corrêa

Com mesas espalhadas pelo salão e garçons circulando entre senhoras em vestido de gala, o Chevrolet Hall bem que poderia ser confundido com um baile de formatura na última sexta-feira. Um clima que se reforçou pelas quase três horas de projeções de Tony Bennett, Frank Sinatra, Céline Dion e Bee Gees nos telões; sendo interrompido apenas às 23h40 com a exibição de imagens que remontam os 50 anos de carreira de Roberto Carlos. Não demora muito para o show de luzes anunciar o início do espetáculo, iniciado com a orquestra regida pelo maestro Eduardo Lages tocando um medley instrumental dos maiores sucessos do rei.

Em meio a essa atmosfera, chega a ser difícil não baixar as armas com a entrada da majestade no palco, olhando de perto àquela figura tantas vezes vista na televisão. Mas, como o piano branco no palco já alertava, assim que Roberto Carlos solta os versos iniciais de “Emoções” – “Quando eu estou aqui / Eu vivo esse momento lindo” –, logo se constata que àquele cantor de espírito roqueiro preferiu abdicar a criação artística para se acomodar na redoma de mito. O espetáculo nada mais é do que um outro episódio do especial de fim de ano da Rede Globo, mas sem a presença de convidados.

Engessado sob a coroa de rei, o cantor passa quase toda a 1h30 de show investindo num repertório óbvio, provocando uma sessão de karaokê com sucesso como “Eu te amo, eu te amo, eu te amo”, “Outra vez” e “Lady Laura”. Depois vira uma missa de Padre Marcelo Rossi com “Nossa Senhora” e cai no romantismo de vez com a sequência de o “Caminhoneiro”, “A volta” e “Proposta”. Mas justo quando as esperanças de ver algo além do especial da Globo beiravam a inexistência, o rei ressurge com “Cavalgada”, fazendo a orquestra explodir numa complexa energia de sons.

Um aviso para percebemos o quão refrescante ainda é a obra de Roberto Carlos, que se fortalece com “É preciso saber viver” e o medley que juntou “É proibido fumar”, “Namoradinha de um amigo meu”, “Quando”, “E por isso estou aqui”, “Jovens tardes de domingo”. Mas tudo não passa de uma cena para fazer inveja a quem preferiu ir ao show da Del Rey no Armazém 14. Roberto Carlos logo senta no trono novamente e encerra o show com “Jesus Cristo”, causando um frenesi nas mulheres da platéia que avançaram para o palco na tentativa de ganhar alguma rosa cheirada pelo rei.

19
abr
09

APR: Cobertura 2o. dia (bandas pernambucanas)

Com direito a peitinhos, bandas
locais revigoram rock da cidade

Thiago Corrêa

Numa noite em que a expectativa era voltada para Marcelo Camelo e ainda teve as apresentações bombásticas da Heavy Trash e da Móveis Coloniais de Acaju, as participações das quatro bandas pernambucanas no último dia do Abril Pro Rock não ficaram por baixo. Apesar de estar sem material inédito desde 2005, a Mundo Livre S/A veio com um show revigorante pela comemoração dos 25 anos de carreira.

Ainda que tenha vindo com um repertório manjado, baseado em hits como “Bolo de Ameixa” e “Melô das Musas”, a banda conseguiu se oxigenar ao acrescentar batidas eletrônicas, lustrando a riqueza sonora dos seus arranjos. Uma tendência que parece ser a tônica do próximo disco e foi confirmada pela inédita “Ela é indie”, que contou com a participação do Maestro Forró.

Anunciado como “o cara mais rock”, a presença de Forró serviu como mensagem subliminar para a música cuja letra brinca com a ideia de tribos de mangueboys, indies e “original Olinda styles”. O maestro da Orquestra Popular da Bomba do Hemetério também contribuiu na balada “Meu Esquema” e Fábio Goró participou da clássica “Computadores Fazem Arte”.

E o que falar da Volver? Já em clima de despedida, a banda fez um dos shows mais emocionantes da noite, nem ligando para a responsabilidade de tocar após a apresentação dilacerante do grupo de Jon Spencer. Bem à vontade em sua terceira participação no Abril, a Volver comoveu o público em “A sorte” e “Tão perto, tão longe”, num indício de que não vai demorar muito para explodir país afora.

Abrindo a noite, a estreante Candeias Rock City apareceu com o reforço de Marcelo Gomão, da Vamoz, que fez um belo par com Paulista nas guitarras. O show pode ser resumido em três palavras: sexo, drogas e rock’n’roll. Em apenas meia horinha, Johnny Hooker conseguiu a proeza de fazer barulho, trocar de figurino, tirar onda com Mallu Magalhães, falar dos entorpecentes de Candeias e, ufa, deliciar os olhares masculinos levando duas dançarinas ao palco com direito a chicotes e peitinhos de fora. Yeah! Até pela pouca idade, Johnny Hooker ainda tem um quê de piada, mas o cara possui estrela e, em breve, ele aprende algo de postura rock com um tal de Lemmy Kilmister.

Já a The Keith optou por um show mais linear e coeso. É impressionante a evolução da banda no palco. Quando eles participaram da eliminatória do Microfonia, não passavam de um grupo de amigos querendo copiar as bandas gringas que ouviam. Dois meses depois, eles chegavam à final do Microfonia como a atração com menos originalidade sonora, mas botaram quente no palco, o que lhes garantiu o segundo lugar e a convocação para o Abril. Na noite de sábado, agora, os meninos fizeram seu dever de casa, com um show honesto, limpo e redondo. Estão tinindo!

18
abr
09

APR: Cobertura 1o. dia

Motörhead surge demolidor
com seu peso no volume total
Thiago Corrêa

A última sexta-feira será marcada como o dia em que um surto de surdez atingiu cerca de 5 mil pessoas. Mas, para a maioria, os danos no tímpano servirão como souvenir de lembrança do show dos veteranos do Motörhead, fechando a primeira noite do Abril Pro Rock. Embora a apresentação do trio inglês envolva toda a emoção do encontro do público pernambucano com uma lenda do rock após 34 anos de espera, o show de uma hora e 36 minutos deve entrar para a História como um dos mais barulhentos da cidade, atingindo nada menos que 130 decibéis.

Para se ter uma ideia do que isso significa, a tabela da Sociedade Brasileira de Otologia indica que a porrada sonora da banda inglesa equivale a um disparo de arma de fogo e perde apenas para as turbinas de avião a jato, que chegam a 140 decibéis. Em certos momentos, a lapada auditiva podia ser sentida no tato, fazendo a roupa do corpo sacolejar e a estrutura do Chevrolet Hall tremer. Agora o mais importante, ao término do show, além de zumbidos nos ouvidos, o Motörhead deixou a lição de que barulho só tem sentido quando se há talento e verdade no palco.

E isso eles tem de sobra. A começar pela postura hipnótica de Lemmy Kilmister, que mesmo estático no palco consegue prender a atenção do público em meio à concorrência dos solos de guitarra do carismático Phil Campbell e do trator Mikkey Dee na bateria, cujo malabarismo de baquetas e o solo devastador competem diretamente com o transe coletivo nas músicas “Ace of spades”, “Overkill” e “Whorehouse blues”, esta revelando uma versão mais light do Motörhead, com gaita e violões.

Com apenas os três no palco, o Motörhead serve de contraponto aos espalhafatos da apresentação do Iron Maiden, mês passado, mostrando que é possível envelhecer bem no rock’n’roll. Sem a pirotecnia de fogos e robôs, o trio inglês demonstrou que mais importante do que efeitos de espetáculo é a sinceridade no som.

FESTIVAL
A potência no som do Motörhead deve ter topado o máximo como uma forma de calar a boca dos que ficaram descrentes com a qualidade sonora dos primeiros shows. Seguindo uma pontualidade britânica, a 17ª edição do Abril Pro Rock começou com os pernambucanos da AMP.

Ainda que prejudicado pela falta de público, som desregulado, excesso de iluminação da platéia e a altura desconfortável do palco 2, os meninos passaram o recado de que o rock pesado não precisa ser feito com poucos acordes. O mesmo se pode falar da Black Drawing Chalks (GO), com um show conciso e rasgante que não apela para os espíritos do inferno.

A partir daí foi só barulheira. Ou deveria ser. Os cariocas do Matanza passaram por maus bocados com uma pane no som que permitiu alguns preciosos segundos de silêncio aos nossos ouvidos. Afinal a banda não passa de uma versão MTV do Devotos, com o vocalista Jimmy se arrastando pelo palco como o boneco Eddie no show do Iron Maiden. Depois veio a Decomposed God, seguindo o estilo Sepultura, com gritos guturais e rapidez na pancadaria dos instrumentos.

01
abr
09

Cobertura: Iron Maiden

Iron Maiden faz o chão tremer
Thiago Corrêa

Num ano em que o Carnaval ficou marcado pelas chuvas, o céu estrelado que cobria o Jockey Club de Pernambuco era um indício de que a noite de ontem seria impecável para a primeira apresentação do Iron Maiden no Nordeste. O aguardado show do grupo britânico aconteceu tudo conforme o previsto, começando na hora marcada e com uma estrutura que comportou bem a demanda de fanáticos pela trupe de Bruce Dickson.

Mesmo para os que não nutrem grandes interesses pelo heavy metal, há de se concordar que os instantes que precedem a entrada triunfal da banda inglesa no palco são emocionantes. Pulando a meia horinha do show de abertura de Lauren Harris, que mal serve de esquente para o público, a noite começa mesmo com as imagens do documentário “Flight 666” nos telões, que logo dão lugar ao discurso de Winston Churchill.

O público, que antes se amontoava na fila do bar durante a apresentação da filha do baixista Steve Harris, passou a se aglomerar em frente ao palco, formando um mar de câmeras digitais para registrar o momento histórico da aparição do Iron Maiden, sob os efeitos de fogos de artifício, tocando “Aces high”, quase emendada com “Wrathchild”. Após ela, o vocalista Bruce Dickson faz o primeiro contato com o público, mostrando todo o seu carisma ao pedir gritos da plateia.

Da mesma forma como aconteceu no show de São Paulo, no último dia 15, os veteranos do Iron Maiden fez jus a devoção de fãs de todo o Nordeste, demonstrando plena energia no palco e um meticuloso cuidado cênico de luzes, figurinos, explosões e fogos de artifício. O repertório foi idêntico ao da apresentação no Autódromo de Interlagos. Tanto aqui como lá, as reações do públicos são semelhantes, acompanhando os solos de guitarra de “Fear of the dark” e louvou a presença do mascote Eddie, na versão do álbum “Somewhere back in time”, durante a apoteótica “Iron Maiden”.

28
mar
09

Cobertura: Lula Queiroga [26.03.2009]

Lula Queiroga doma nervosismo de
estreia e já fica de olho no mundo

Thiago Corrêa

O primeiro show de uma turnê é sempre um teste. Por mais experiente que seja o artista, esse momento inicial é permeado pela insegurança de revelar, em cima de um palco, para um bando de desconhecidos, algo que foi criado no âmago da intimidade. Embora tenha sofrido com o nervosismo de estreia, a apresentação de Lula Queiroga no lançamento do disco “Tem juízo mas não usa”, quinta-feira no Teatro da UFPE, passou por média e deu sinais de que o espetáculo está no caminho certo.

O show começou com um Lula Queiroga enrijecido no palco, ainda em processo de conquistar confiança. Sua voz perdida, ficou em segundo plano, ofuscada pelo poder do som dos instrumentos durante as três primeiras, todas do novo álbum – “Altos e baixos”, “Você não disse” e o novo hit “Manga, Graviola, Hortelã”, na qual o cantor já ameaçava se soltar. Após tocar “Eu no futuro”, faixa de “Aboiando a vaca mecânica”, a apresentação entrou num estágio mais intimista com uma série de quatro músicas lentas.

Nessa parte, iniciada por “Noite Severina”, a participação do violão de Vinícius Sarmento deu um especial na melancolia do samba “A telefonista na floresta predial”. Depois da pausa, para se tomar fôlego, o show voltou a retomar vigor com “Pobretown”, engrenando de vez com “Atirador”, que teve a desenvoltura de Ortinho, e culminou com dois dos maiores sucessos de Lula Queiroga – “Roupa no varal” e “2 olhos negros”.

Mas o ápice mesmo, veio com o medley “Geusa” e “Ah, se eu vou”, onde as participações do carisma de Silvério Pessoa e a delicadeza do som de Zé da Flauta se mostraram imprescindíveis. Parecendo já estar sem o peso da estreia, Lula Queiroga encerrou o show com “Discovery”, cuja letra fala em “Viajar o mundo inteiro pra ver / Pra ver como o mundo é grande”, numa alusão a expectativa em mostrar o novo trabalho a outros públicos.

23
mar
09

Cobertura: Radiohead!!!!!!!!!!!!!!

Radiohead mostra a beleza de ser estranho
Thiago Corrêa*
 
RIO DE JANEIRO – As dezenas de pernambucanos que gastaram pelo menos R$ 430 na passagem para o Rio de Janeiro e outros R$ 200 no ingresso do Just a Fest, realizado na Praça da Apoteose na última sexta-feira, viram seu investimento se transformar num tesouro que pode ser traduzido num sorriso de satisfação acompanhado de duas palavras: eu fui. Isso porque, em pouco mais de cinco horas, as cerca de 24 mil pessoas presentes assistiram à volta esporádica do Los Hermanos, sentiram o peso histórico do Kraftwerk e vivenciaram o primeiro show em terras brasileiras do Radiohead.
 
Fatos tão importantes que até certo momento preocupavam este jornalista durante os shows para definir por onde começar a matéria. Se por um lado presenciei o retorno da última grande banda do rock nacional fazendo um show karaokê cheio de nostalgia, embora burocrático; também fui transportado pelo som datado dos precursores da música eletrônica e pela explosão de imagens nos telões em meio a clássicos como “Autobahn”, “Radioactivity” e “The Robots”, que expôs a problemática das apresentações ao vivo se autosubstituindo por bonecos com mais vitalidade que os próprios integrantes.
 
Mas a dúvida começou a cair logo na entrada do Radiohead, quando a banda inglesa tocou “15 Step”, a primeira do “In Rainbows”, tocado na íntegra. Quatro músicas depois, ao ouvir os primeiros acordes de “Karma Police”, a suspeita logo se transformava na certeza de que ali, naquele momento, não existia outro lugar no mundo onde estar. Uma sensação que também deve ter passado por Thom Yorke, que mesmo após o término da música, sozinho, ainda puxou o coro “this is what you get, this is what you get”.
 
Um clima de sonho que se valorizou ainda mais com os efeitos de tubos luminosos rodeando o palco, proporcionando um visual irresistível e ao mesmo tempo sóbrio. Algo bem semelhante ao comportamento de Thom Yorke, tido como uma pessoa estranha, mas que surpreendeu pela naturalidade demonstrada no palco. Vendo ele ao vivo, entende-se melhor a importância do Radiohead, cuja influência pode ser vista em muitas poses do rock local, como as dancinhas de China e os cacoetes de Vitor Araújo.
 
Junto com Jonny Greenwood, Ed O’Brien, Colin Greenwood e Phil Selway; Thom Yorke parecia realmente estar se divertindo por conseguir fazer a estranheza de suas músicas ser aceita, sem precisar se submeter a qualquer restrição artística. Um sentimento que culminou na última música, quando a banda tocou “Creep”, fazendo o público compartilhar a emoção da beleza de ser estranho e perceber que está no caminho certo.

* O jornalista viajou por conta própria e não se arrependeu

17
mar
09

Cobertura: Iron Maiden (em SP)

Iron Maiden bate
recorde de público
com show de clássicos

Thiago Corrêa*
 
SÃO PAULO – Contagem regressiva: faltam exatamente duas semanas para o Iron Maiden tocar pela primeira vez no Recife. A exemplo do que aconteceu na apresentação da banda inglesa em São Paulo, no último domingo, poucas vezes a palavra show será tão bem empregada. Afinal, as cerca de 20 mil pessoas esperadas para encher o Jockey Clube de Pernambuco, dia 31, poderão se deslumbrar com todo o aparato cênico que envolve a turnê “Somewhere Back In Time” e impressionou os 68 mil fãs presentes no Autódromo de Interlagos, na capital paulista.
 
O espetáculo envolve trocas de painéis, mudanças de figurino, cenário no estilo egípcio inspirado no disco “Powerslave” (1984), robôs surgindo no palco, labaredas, fogos de artifício e dois telões de LED. Mais que isso, envolve uma banda de músicos veteranos ainda em pleno vigor técnico, mostrando empolgação de grupo iniciante para a multidão que bateu o recorde de público da banda. Entre os fãs, o casal Wagner e Carla Santana, de 34 anos, chamava a atenção por antecipar o encontro do Iron Maiden com Pernambuco, carregando a bandeira do Estado. “A bandeira é a marca registrada da gente, vai para todo jogo de futebol e show que nós vamos”, explica Carla.
 
Mesmo aos 50 anos de idade, o vocalista Bruce Dickson continua subindo e descendo pelo cenário, percorrendo o palco de canto a canto e exibindo um poderio vocal, cheio de variações de tom. Carismático, Bruce conversou com o público, desculpou-se pelo atraso de mais de uma hora e ainda soube usar a experiência para pedir aos fãs que dessem dois passos para trás, a fim de aliviar o sufoco na fila do gargarejo. Uma exibição capaz de fazer inveja até mesmo de Lauren Harris, de 24 anos, representante da nova geração metaleira.
 
Filha do baixista Steve Harris, Lauren responsável pelo show de abertura na turnê. Apesar do virtuosismo do guitarrista Richie Faulkner e do esforço da cantora no palco, a apresentação só tem fôlego para meia hora mesmo. E é isso o que dura, porque o palco precisa ser montado para o sexteto inglês formado por Bruce, Steve, o baterista Nicko McBrain e o trio de guitarristas Dave Murray, Adrian Smith e Janick Gers. O show é anunciado com imagens do documentário “Flight 666” nos telões de LED e engrena de vez com “Aces High”, de “Powerslave”.
 
Apenas o início do saudosismo que envolve clássicos do Iron Maiden dos anos 80, porque ainda estavam por vir “Rime of the Ancient Mariner”, “The Trooper” e “Iron Maiden”, que conta com a aparição de Eddie, caveira em versão múmia que serve de mascote para o grupo, saindo de dentro de uma tumba no painel do fundo palco. No bis, o grupo reaparece com a estrondosa “The Number of the Beast” e emenda com “The Evil that the Men Do”, com nova aparição do Eddie, dessa vez um robô articulado que caminha pelo palco.
 
* O jornalista viajou a convite da Raio Lazer

09
fev
09

Cobertura: Prévia do Guaiamum Treloso

Pouca trela no Guaiamum
Thiago Corrêa

Em se tratando de um bloco carnavalesco, o mínimo que se espera é um pouco de irreverência. Ainda mais para o Guaiamum Treloso que traz a teimosia estampada em seu estandarte. Mas, o que a maioria das pessoas viram na prévia da agremiação, na noite de sábado passado, foi mais uma festa enrijecida pelo tamanho de sua estrutura, apostando na mesmice e numa atração de peso tocando seus sucessos para todo mundo poder cantar junto.
 
Nesse contexto, o show de Gilberto Gil cumpriu bem seu papel. Com uma defasagem de apresentações por aqui, o ex-ministro entrou no palco instigado, enfiando o pé no acelerador. Acompanhado de seis músicos, Gil fez um resumo de sua carreira, passando por várias fases de sua música. Do reggae, tocou as versões de “No Woman, No Cry” e “Is This Love”, mandou ver uma sequência de rock, passou pelo xote com “Esperando na Janela” e metralhou hits como “Tempo Rei”, “A Novidade”, “Realce”, “Toda Menina Baiana Tem um Santo” e “A Paz”.

Embora muito bem vindo, o esforço de Gil não foi capaz de ofuscar as deficiências da atração anterior – a Banda Caetano, de cover monolítico de Caetano Veloso. O grupo tenta dar um peso mais rock às canções do tropicalista, mas tudo isso acaba sendo jogado no lixo pelos cacoetes de axé do vocalista, que não se cansava em gritar para a plateia frases chicleteanas como “tira o pé do chão”.

Prejudicado pelo horário, quem melhor soube explorar o clima carnavalesco foi João do Morro, responsável pelo show de abertura. Mesmo com a arena praticamente vazia, ele mostrou desenvoltura no palco, despertando sorrisos nas poucas pessoas que estavam presentes. Vestido com uma fantasia de faraó, João do Morro tem se revelado uma resposta irônica para a cultura do axé music baiano, destilando irreverência em suas letras, numa tiração de onda com o público gay, jornalistas e boyzinhos. A noite ainda teve a apresentação da escola de samba Galeria do Ritmo.

18
dez
08

Virtuosi 2008: 1o. dia

Os cenários da música
Thiago Corrêa

Quarta-feira, 16 de dezembro, 17h. Enquanto as ruas de Recife se congestionavam com os carros de trabalhadores no caminho de volta para casa, um punhado de gente aproveitava o tempo para fazer uma viagem no Teatro de Santa Isabel, na noite de abertura da 11ª edição do Virtuosi. Apesar de permanecerem sentados no mesmo lugar, o público foi transportado a outros cenários através da luta de homens com seus instrumentos. Um duelo que se evidenciava em expressões faciais, sentimentos, músicas e aplausos.

Experiências sonoras que serviram de portais para tempos medievais, filmes da década de 50 e sobretudo, a selva. Se o violino de Nicolas Koeckert, o piano de Kristina Miller e o trombone do sueco Christian Lindberg resgataram lembranças em nossas memórias; Naná Vasconcelos nos pegou pelas mãos e levou a platéia para conhecer a floresta amazônica em pleno Teatro de Santa Isabel. Através de delays, instrumentos de percussão e voz; o homenageado deste ano do Virtuosi criou índios, pássaros, regeu a platéia e nos fez navegar pelo rio Amazonas.

Um momento mágico que coroou uma noite memorável que começou com a bela série de concertos sobre as composições de Marlos Nobre, executadas pelo próprio pernambucano, mais Leonardo, Rafael e Ana Lúcia Altino. Em seguida, destaque para o dueto entre Nicolas Koeckert e Kristina Miller tocando o “Concerto Fantasia sobre a Ópera ‘Porgy and Bess'”, de Gershwin. E ainda a apresentação de Lindberg, com as bem humoradas “Bombay Bay Barracuda” e “Solo for Sliding Trombone”, de John Cage. O Virtuosi continua sua programação esse fim de semana com séries de concertos às 17h, 19h e 21h no Teatro de Santa Isabel.

12
dez
08

Cobertura: Final do Microfonia 2008

Candeias Rock City mantém
a regularidade e é a campeã

Thiago Corrêa

Para se vencer uma disputa em formato de copa é preciso entrar com tudo em todas as fases. De nada adiantaria as vitórias do Sport contra o Internacional, Palmeiras e Vasco se perdesse para o Corinthians na final da Copa do Brasil. E mais do que ninguém, Johnny Hooker sabe que o Microfonia também segue essa lógica. É ali, nos 30 minutos de palco que resolve a parada. Finalista das outras duas edições, Hooker entrou na final, quinta-feira na Nox, com sua Candeias Rock City mostrando a mesma voracidade da eliminatória e levou o título de campeão desta vez.

Com disposição semelhante no palco, a The Keith superou as expectativas com seu indie rock by Strokes e, na final, foi a única a ameaçar o título da Candeias Rock City, ficando com a vice. Já a Voyeur parece ter deixado um pouco da sua energia e irreverência nas semi-finais. Terceiro lugar para eles.

A quarta colocação ficou com A Comuna, que até se esforçou para sair do clima intimista do seu som, vestindo camisetas do programa de televisão Ídolos e chutar o balde com o cover do funk proibidão “Bonde da Orgia de Travecos”. Talvez fosse a falta de cerveja no sangue do público ou a iluminação e o som da Nox que não estavam 100% durante suas apresentações, mas nem A Comuna nem a Voyeur conseguiram empolgar na final.

Tudo bem, não importa. Por mais interessante que seja o prêmio de R$ 3 mil e a vaga no Abril Pro Rock de 2009, o que vale é que as bandas aproveitaram a oportunidade e mostraram que estão prontas, redondinhas, para tocar pela cidade e cair na estrada. Está aí a Sweet Fanny Adams para provar. Em 2006, os meninos ficaram em quarto lugar e, dois anos depois, marcaram presença nos mais importantes festivais independentes do país.




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