O peso da coroa de Roberto Carlos
Thiago Corrêa
Com mesas espalhadas pelo salão e garçons circulando entre senhoras em vestido de gala, o Chevrolet Hall bem que poderia ser confundido com um baile de formatura na última sexta-feira. Um clima que se reforçou pelas quase três horas de projeções de Tony Bennett, Frank Sinatra, Céline Dion e Bee Gees nos telões; sendo interrompido apenas às 23h40 com a exibição de imagens que remontam os 50 anos de carreira de Roberto Carlos. Não demora muito para o show de luzes anunciar o início do espetáculo, iniciado com a orquestra regida pelo maestro Eduardo Lages tocando um medley instrumental dos maiores sucessos do rei.
Em meio a essa atmosfera, chega a ser difícil não baixar as armas com a entrada da majestade no palco, olhando de perto àquela figura tantas vezes vista na televisão. Mas, como o piano branco no palco já alertava, assim que Roberto Carlos solta os versos iniciais de “Emoções” – “Quando eu estou aqui / Eu vivo esse momento lindo” –, logo se constata que àquele cantor de espírito roqueiro preferiu abdicar a criação artística para se acomodar na redoma de mito. O espetáculo nada mais é do que um outro episódio do especial de fim de ano da Rede Globo, mas sem a presença de convidados.
Engessado sob a coroa de rei, o cantor passa quase toda a 1h30 de show investindo num repertório óbvio, provocando uma sessão de karaokê com sucesso como “Eu te amo, eu te amo, eu te amo”, “Outra vez” e “Lady Laura”. Depois vira uma missa de Padre Marcelo Rossi com “Nossa Senhora” e cai no romantismo de vez com a sequência de o “Caminhoneiro”, “A volta” e “Proposta”. Mas justo quando as esperanças de ver algo além do especial da Globo beiravam a inexistência, o rei ressurge com “Cavalgada”, fazendo a orquestra explodir numa complexa energia de sons.
Um aviso para percebemos o quão refrescante ainda é a obra de Roberto Carlos, que se fortalece com “É preciso saber viver” e o medley que juntou “É proibido fumar”, “Namoradinha de um amigo meu”, “Quando”, “E por isso estou aqui”, “Jovens tardes de domingo”. Mas tudo não passa de uma cena para fazer inveja a quem preferiu ir ao show da Del Rey no Armazém 14. Roberto Carlos logo senta no trono novamente e encerra o show com “Jesus Cristo”, causando um frenesi nas mulheres da platéia que avançaram para o palco na tentativa de ganhar alguma rosa cheirada pelo rei.